segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Catatônico.

-Doutora, eu sou feliz, acredite. Sou tão feliz que tenho dias tão claros, tão claros que posso tocar!
-Tocar? O quê?
-A luz toda! Posso segurar toda a luz. Eu a seguro forte, contra o peito. Agarro-a, aperto-a, coloco-a no colo. A luz. Mimo-a e é... Sou feliz, doutora, sou sim. Com luz que exala-me dos poros, contato de pele. Mas aproxima-se um... Um furacão!... Não, não... Furacões podem ser previstos, avisados, evitados... Isso não...
-Isso?
- É doutora, isso... Essa... Faltam-me palavras... É como... É um apagão! É isso! Um apagão! Apagões não são premeditados... Eles ocorrem. Como ocorrem em mim. Levam todas as faíscas reluzentes. Tudo se esvai. Pff! Perde-se na escuridão... Doutora, a escuridão se alimenta de luz?
-Eu não sei... Se alimenta?
-Eu não sei... Aposto que sim! Pois quando tenho-a inteira, minha, faiscante logo tudo é escuridão.... Uma escuridão enorme... A escuridão é infinita, não é, Doutora?
- Não, não é... Nem tudo são trevas.
- Não, não é... Então minha escuridão é gigantesca! Pois ando-a toda, percorro-na, corro em busca da já esmiuçada luz e não tem fim... Nunca tem fim, nem mais luz... Fico cansada e escura... E faço o que pessoas cansadas fazem, Doutora...
- E o que é? O quê pessoas cansadas fazem?
- Ora Doutora... Cinco anos de estudos e tu ainda não sabes o que pessoas cansadas fazem? Pessoas cansadas.... Pessoas cansadas descansam, pois sim. Deito-me em meio a escuridão e descanso... Acabou, não é? Meu tempo acabou...
- Aqui sim. Você sabe que lá fora ainda há muito...
- Acabou, Doutora, meu tempo acabou. E está tudo tão escuro lá fora...

Tão escuro aqui dentro.

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